C-47 no SDU © Vito Cedrini |
A coqueluche é uma doença das vias respiratórias que no início do século passado infectou muitas crianças, principalmente em seus primeiros anos de vida, para as quais se mostrava uma moléstia extremamente grave.
Segundo Gonçalves, L. (1956) na década de 1920 um médico aviador francês que teve dois filhos afetados pela coqueluche, ouviu falar sobre os benefícios do ar rarefeito para os doentes desta moléstia. Para comprovar a estória, ele levou um dos filhos para voar e percebeu melhora substancial em comparação ao outro que não voou. Desta forma escreveu sobre os benefícios do ar rarefeito (entre mil e três mil metros) no combate do bacilo causador desta doença.
Nos anos 1940 a indicação médica de voos para o tratamento da coqueluche estava espalhada pelo mundo, e a FORÇA AÉREA BRASILEIRA começou a levar pacientes para "respirar ar puro" desde o ano da sua criação em 1941. Um dado estatístico de 1949 informou que no primeiro semestre daquele ano, o Correio Aéreo Nacional (CAN) havia realizadoo 20 voos especiais, levando 365 crianças e 247 acompanhantes, totalizando 21 horas e 40 minutos de voo.
Correio da Manha (11/08/1949) |
Em meados dos anos 1950 os conhecidos "VOOS DA COQUELUCHE" ficaram tão populares no Brasil que a FAB criou o "Serviço de Coqueluche", na 3ª Zona Aérea no Rio de Janeiro.
"Serviço de Coqueluche" | Correio da Manha (23/10/1957) |
Os "Voos da Coqueluche" da Foça Aérea Brasileira eram totalmente gratuitos e operados pelos Douglas C-47 do Comando de Transporte Aéreo (COMTA), que partiam inicialmente na Base Aérea do Galeão e posteriormente do Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio de Janeiro. Para conseguir uma vaga, os responsáveis das crianças deveriam comparecer no Serviço da Coqueluche no aeroporto, apresentando a receita médica que prescrevia o "tratamento aéreo".
Rara imagem do FAB 2062 embarcando para mais um voo da Coqueluche Arquivo Histórico Nacional © |
Na Seção da Coqueluche, os militares da FAB informavam aos responsáveis os detalhes da operação, como deveriam se comportar a bordo das aeronaves e os preparavam para a experiência de voar, que para muitos era inédita e assustadora! Os acompanhantes eram orientados a levar alimentos e agasalhos, pois a temperatura a bordo dos C-47 eram bem baixas. Os voos tinham duração aproximada de duas horas em altitude média de 3.500 metros (11.000 pés), e conforme orientação médica, a subida deveria ser rápida até nivelar (500 pés/minuto) e descida lenta até o pouso (300 pés/minuto). A bordo sempre haviam médicos e enfermeiros da FAB, que muitas vezes auxiliavam os pequenos com máscaras de oxigênio, devido aos enjoos e possíveis desmaios.
A bordo de um Voo da Coqueluche © Arquivo Histórico Nacional
Aos domingos o jornal carioca Correio da Manhã publicava na tradicional seção de aviação, os nomes dos pacientes escalados para os voos da semana. Na segunda metade dos anos 1950 ocorriam quatro voos às terça-feiras, e o Comando de Transporte Aéreo (COMTA) aproveitava para treinar tripulantes de C-47 durante os voos que prosseguiam até a região de Cabo Frio.
Correio da Manha (15/12/1957) |
Apesar do "Serviço da Coqueluche" ser sediado no Rio de Janeiro, a FAB realizava os "Voos da Coqueluche" em todo o Brasil, conforme a demanda e necessidade. Além dos Douglas C-47, outras aeronaves militares foram utilizadas para levar pacientes, inclusive os clássicos quadrimotores Boeing B-17 baseados na Base Aérea do Recife/PE.
FAB 5402 (B17) - preservado na Base Aérea do Recife/PE | Rafael Borba © |
Diversos pilotos privados brasileiros também realizaram voos para tratamento da coqueluche, muitos de maneira voluntária em seus próprios aviões.
Com o desenvolvimento de medicamentos e a produção de vacinas, os voos da coqueluche foram reduzidos no início da década de 1960. Sem dúvidas este foi mais um belo capítulo na história da nossa aviação, em particular da Força Aérea Brasileira.
Correio da Manha (25/05/1956) |
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