Lodestar PP-SAA no Aeroporto Federal de Porto Alegre - São João
O inverno de 1950 foi marcado por duas grandes tragédias aeronáuticas no estado do Rio Grande do Sul. Quarenta e oito horas depois do grande acidente nos arredores de Porto Alegre/RS com o Constellation da Panair do Brasil (PP-PCG), um bimotor Lodestar da SAVAG desapareceu no interior do estado gaúcho.
A SOCIEDADE ANÔNIMA VIAÇÃO AÉREA GAÚCHA (SAVAG), fundada no final de 1946 na cidade do Rio Grande/RS, pelo Comandante Gustavo Cramer, que estava incomodado com a expansão nacional da Varig, e o desleixo da "pioneira" com as rotas regionais no estado do Rio Grande do Sul.
O Comandante Cramer, foi piloto-chefe da Panair do Brasil, empresa com sede no Rio de Janeiro, e que tinha grande interesse em bater de frente com a Varig no sul do país. Assim surgiu a oprtunidade da SAVAG adquirir três Lockheed 18 Lodestar, com os quais a novata aérea gaúcha iniciou as operações no início de 1947. Sem medo de desafios, a primeira rota foi a famosa "linha da Lagoa" entre Rio Grande - Pelotas - Porto Alegre, iniciada pela Varig alguns anos antes. A concorrência era aberta e direta!
A SAVAG mal tinha completado dois anos de vida, quando, em janeiro de 1949, sofreu o primeiro revés. O Lodestar, prefixo PP-SAC, caiu logo após a decolar de Pelotas/RS, matando todos os 18 ocupantes. Uma tragédia.
O ano seguinte seria marcado por outro trágico e marcante acidente, e que entrou para a história do Brasil.
No domingo, 30 de julho de 1950, o Brasil ainda acompanhava as notícias do difícil resgate dos 51 cadáveres do acidente com o Constellation da Panair (PP-PCG), ocorrido dois dias antes na região metropolitana de Porto Alegre.
Uma frente fria estacionária, com chuvas e nuvens baixas encobria quase todo o território gaúcho. Mesmo com a meteorologia desfavorável, o Comandante Cramer aceitou fazer um voo para levar uma comitiva até uma fazenda no interior do estado.
A comitiva de cinco passageiros era liderada pelo então Senador Joaquim Pedro Salgado Filho, que na época estava articulando sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul. O destino seria a Fazenda Itu, na cidade de São Borja/RS, onde o político se encontraria com o ex. Presidente Getúlio Vargas.
O Lockheed Lodestar, PP-SAA, pilotado pelo Cmte Cramer, decolou de Porto Alegre/RS às 10h58 com dez pessoas a bordo (5 passageiros e 5 tripulantes). O voo ocorreria a uma altitude de 4.500 pés (1.450 m) e a aproximação para a Fazenda Itú, seria realizada por instrumentos, tendo como base a Rádio Difusora da cidade de São Borja/RS.
O livro "O Rastro da Bruxa" (Germano, 2014) relata que o trajeto até próximo a Santa Maria, foi realizado sob condições instrumentos (IFR). Tentando manter contato visual com o terreno, o Cmte Cramer teria solicitado alterar o plano de voo para visual (VFR), o que foi negado pelo Centro de Controle de Área, que perdeu o contato rádio com o avião uma hora mais tarde.
A baixa camada de nuvens e a chuva estavam presentes durante quase todo o trajeto. O Cmte Cramer precisava "furar" a camada e encontrar condições favoráveis para localizar a Fazenda Itu. Segundo consta, o experiente piloto, pressionado pelo compromisso assumido com o Senador e o ex. Presidente da República, desceu abaixo dos níveis de segurança, calculando já ter passado as elevações mais altas da região. As investigações mostraram que o PP-SAA entrou voando no pequeno morro, chamado Cerro dos Cortelini, interior do município de São Francisco de Assis. Infelizmente, todos os ocupantes faleceram instantaneamente no choque contra o solo. Entre eles estavam o piloto e fundador da SAVAG, Cmte Cramer e o ex-Ministro da Aeronáutica, Senador Joaquim Pedro Salgado Filho.
Agora a frota da SAVAG tinha apenas um Lodestar, o PP-SAB, e corria sérios risco de encerrar as atividades. Os proprietários, a Sra. Maria Cramer (Irmã do falecido Cmte. Cramer) e o Sr Augusto Leivas Otero, encontram ajuda na companhia aérea Cruzeiro do Sul, que cedeu dois Douglas DC-3 para a SAVAG manter seus voos regionais, interligados à malha nacional da empresa carioca.
O primeiro Douglas DC-3 com as marcas da SAVAG foi o PP-SAD, que entrou em atividade em 1951, o segundo foi o PP-SAE, que chegou em 1957. Neste período a SAVAG existia apenas no papel e nas pinturas dos aviões, pois toda a administração e operação era realizada pelo quadro de funcionários da Cruzeiro do Sul. Todas as propagandas da empresa gaúcha nas revistas e jornais, remetiam sempre para a integração dos voos regionais, com a malha nacional da Cruzeiro do Sul.
No início dos anos 1960 o Brasil passava por um momento de grandes investimentos na malha rodoviária, com abertura e asfaltamento de estradas. Gradativamente os voos regionais foram apresentando cada vez menor ocupação, o que levou a Cruzeiro do Sul a encerrar rotas deficitárias e cortar gastos. Sobrou para a SAVAG, que teve os dois DC-3 retomados no final de 1965, levando ao encerramento das atividades e o fechamento da empresa gaúcha.
Frota da SAVAG entre 1946 e 1965:
PP-SAA “Cidade de São Pedro do Rio Grande” (1946 - 07/1950) - acidentado;
PP-SAB “Cidade de Pelotas” (1946-19??) - exportado;
PP-SAC “Cidade de Bagé” (1946-01/1949) - acidentado;
PP-SAD "Erechim" (1951-1965) - devolvido para a Cruzeiro do Sul;
PP-SAE não batizado (1957-1965) - devolvido para a Cruzeiro do Sul.
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