domingo, 24 de novembro de 2019

HISTÓRIA: O BRASIL E OS 50 ANOS DO BOEING 747

CMTE CARLOS DUFRICHE via VITO CEDRINI © GIG 19/11/1970
A data de 09 de fevereiro de 1969 marcou um dos mais importantes capítulos da aviação mundial.

Naquela manha fria de inverno, uma multidão se aglomerava nos arredores do Aeroporto de Paine Field, Everett, no estado norte-americano de Washington, onde fica a fábrica da Boeing. Naquele dia ocorreria a primeira decolagem d
o gigantesco Boeing 747, até então o maior avião de passageiros já construído pelo homem.

Pouco antes do meio-dia o N7470 (cn 20235),  um colosso de dois andares e 70 metros de comprimento, tirou os seus 18 pneus do chão e ganhou os ares para a incredulidade da maioria das testemunhas que viram nascer ali um dos maiores sucessos da aviação comercial de todos os tempos.
BOEING © PAE 19/02/1969
Em pouco tempo o sucesso do "Jumbo" se espalhou pelo mundo e centenas de companhias compraram o 747 e faziam dele padrão para os seus anúncios, tornando o avião popularmente conhecido, mesmo para aqueles que nunca pisaram num aeroporto. 

Cinco décadas se passaram e o 747 ainda é fabricado pela Boeing, que contabiliza mais de 1500 aeronaves construídas em seis modelos básicos e dezenas de variantes.

NO BRASIL

Contrastando o gigantismo do sucesso mundial, a história do Boeing 747 no Brasil tem um capítulo minúsculo. Apenas uma dúzia de aeronaves operadas pela Varig e uma tentativa da AeroBrasil Cargo resume a passagem do Rei dos Ares na frota brasileira. 

A primeira vez que um Jumbo pousou no Brasil foi em 19/NOV/1970 no Aeroporto Internacional do Galeão/RJ (GIG). O Boeing 747-100 da Northwest Orient (N610US), utilizado como demonstrador pelo fabricante, realizou um tour pela América do Sul, chegando ao Rio de Janeiro procedente de Buenos Aires, com 58 passageiros a bordo, entre eles o presidente da Varig, potencial cliente do avião. Centenas de pessoas foram ao Galeão para ver o mega-avião, que devido as inéditas dimensões trouxe consigo uma escada especial para ser acoplada às existentes no aeroporto. O N610US realizou apenas um voo de demonstração com duas centenas de convidados e autoridades, e permaneceu no Brasil por dois dias apenas. 
Jornal do Brasil © 20/11/1970
A história do Boeing 747 no Brasil começou por conta de uma guerra diplomática entre os Estados Unidos e a Líbia. Um embargo comercial imposto ao Coronel Muammar Gaddafi pelo governo norte-americano, vetou a entrega de três 747-200 encomendados pela Lybian Arab Airlines em 1980. 

Com dois 747-200 prontos e o terceiro na linha final de montagem, a Boeing os ofereceu à Varig com a vantajosa opção de entrega imediata. Desta forma em 09FEV/1981 os dois primeiros jumbos brasileiros (PP-VNA e PP-VNB) chegaram quase juntos ao Rio de Janeiro, e o terceiro (PP-VNC) foi entregue no mes seguinte. Além deste fato que por si só é curioso, os trigêmeos líbios que voaram nas cores da pioneira eram da versão "Combi", ou seja, possuíam uma porta de carga na parte traseira esquerda da fuselagem para operações mistas (passageiros/cargas).
FÁBIO LUÍS FONSECA © Site AeroEntusiasta
VARIG ©
Quatro anos depois a frota aumentou para cinco Jumbos, com a chegada de dois 747-300C (PP-VNH e PP-VNI), a versão mais moderna e recém lançada pela Boeing e com a mesma  capacidade mista dos primeiros (passageiros e cargas).  

Em 1987 o sexto 747 veste as cores da Varig. Desta vez foi um arredamento de quase 16 meses de um 747-200 "full-pax" (sem porta de cargas no piso superior) da South African Airways (PP-VNW). Os motores Pratt & Whitney e a pintura incompleta o diferenciavam do restante da frota, padronizada com motores General Electric.
NICOLA MARASPINI © via Airlines
Três 747-300 "full-pax" foram recebidos em 1988 (PP-VOA, PP-VOB e PP-VOC), fechando nove Jumbos que usaram as cores da Varig.

Os últimos e mais modernos 747 a voar para uma companhia brasileira tiveram passagem relâmpago. Recebidos pela Varig entre 1991 e 1993 os Boeing 747-400 (PP-VPI, PP-VPG e PP-VPH) voaram apenas três anos e foram devolvidos aos proprietários por conta dos elevados custos operacionais para a companhia que não apresentava boa saúde financeira. 
VARIG ©
Era o sinal vermelho acendendo na Varig. O cinto foi apertando e gradativamente a frota foi parando e sendo devolvida.

O último voo operado por um Boeing 747 com bandeira brasileira na fuselagem foi em 06/JUN/1999. Na ocasião o 747-300 PP-VOC, realizou o voo RG839 de Nagóia/Japão para Guarulhos/SP (GRU) com escala em Los Angeles/USA (LAX).  Para fechar a triste história com bastante dramaticidade, devido às más condições meteorológicas em São Paulo o voo alternou o Galeão/RJ (GIG). A tarde o "Victor-Oscar-Chalie" fez o voo RG8939 do GIG para GRU, encerrando as operações comerciais do "Rei dos Céus".
HAJIME SUZUKI © via Airlines
Entre 1981 e 2000 passaram pela frota da Varig doze aeronaves de três modelos diferentes.
  • PP-VNA (B747-200 # cn  22105 ) FEV/1981 - MAR/1996 * primeiro Jumbo do Brasil
  • PP-VNB (B747-200 # cn  22106 ) FEV/1981 - JAN/1996
  • PP-VNC (B747-200 # cn  22107 ) MAR/1981 - MAI/1996
  • PP-VNW (B747-200 # cn  20238) ABR/1987 - AGO/1988 * arrendado da SAA
  • PP-VNH (B747-300 # cn 23394) DEZ/1985 - AGO/2000
  • PP-VNI (B747-300 # cn  23395) DEZ/1985 - MAI/2000 * último Jumbo a deixar o país
  • PP-VOA (B747-300 # cn  24106) ABR/1988 - ABR/2000
  • PP-VOB (B747-300 # cn  24107) MAI/1988 - JAN/2000 
  • PP-VOC (B747-300 # cn  24108) MAI/1988 - JAN/2000 * realizou último voo comercial de 747 no Brasil
  • PP-VPI (B747-400 # cn 24896)  SET/1991 - JUL/1994
  • PP-VPG (B747-400 # cn 24956) JUN/1992 - SET/1994
  • PP-VPH (B747-400 # cn 24957) ABR/1993 - SET/1994

Acabou? Não!  Ainda teve um Boeing 747 que recebeu as cores de uma companhia brasileira, mas nunca voou.

ANDY MARTIN © MZJ 1997
Em meados de 1996 a cargueira AeroBrasil (1980-1997), subsidiária da Transbrasil, reservou no Departamento de Aviação Civil (DAC), atual ANAC, a matrícula PT-TDE para o primeiro Boeing 747-100F do Brasil.

A aeronave escolhida foi o N478EV (cn 21033) da companhia norte-americana Evergreen, que há algum tempo arrendava as suas aeronaves para voos internacionais da AeroBrasil. No início de 1997 o Jumbo foi fotografado no Centro de Manutenção da Evergreen em Marana/USA (MZJ), com o novo padrão de pintura especialmente criado para a ocasião e que lembrava as cores da Interbrasil Star, companhia regional do grupo.

A crise que o Grupo TransBrasil estava mergulhado exigia medidas drásticas para manter a operacionalidade da empresa mãe. Em FEV/1997 os dirigentes decidiram encerrar as operações da AeroBrasil Cargo e o sonho do 747 terminou sem sair do chão. A aeronave retornou para a Evergreen onde voou até 2006.
TEXTURAS BRASILEIRAS © Arte da pintura (747-400F) 


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